São Paulo Essencial para a preservação e fortalecimento
de algumas espécies, criação e exportação brasileira ainda engatinha.
Europa e EUA detém liderança de venda legal de animais tropicais. Os
criadores de pássaros legalizados e que seguem as normas para manter a
higiene e o bem-estar desses animais são atores essenciais na manutenção
de espécies nativas e exóticas no Brasil. A Associação Brasileira da
Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) apoia a
atuação dos 5.457 criatórios de animais presentes no Brasil e também
entende que esses estabelecimentos atuam como perpetuadores de espécies
ameaçadas de extinção, fonte de emprego e de divisas para o setor pet no
País.
Aves
conservadas pelo Criadouro Lagopas, um dos 5.457 estabelecimentos que
atuam no País como perpetuadores de espécies ameaçadas de extinção,
gerando empregos e divisas para o setor pet FOTO: CRIADOURO LAGOPASPara
o criador gaúcho Flávio Sousa Jr., de Porto Alegre, trata-se da chance
de manter espécies cujo habitat já foi extremamente modificado pelo
homem. "As populações dessas espécies se manterão em número razoável e
com diversidade genética suficiente. Muitos animais têm diversidade
genética tão pequena que a suscetibilidade a doenças é muito grande. O
criador desenvolve mecanismos para que a sobrevivência seja possível".
Na
cidade do Rio de Janeiro, no Criadouro Passaredo, Lélio Heliodoro cria
psitacídeos, como papagaios e araras, e ramphastídeos, popularmente
conhecidos como tucanos, tanto nacionais como exóticos.
Heliodoro
explica que zoológicos e criadouros podem ser considerados "reservas
genéticas sob condições controladas: desenvolvemos técnicas de
reprodução que poderão, eventualmente, servir para reposição de animais
ex situ, com a possibilidade de se refazer, na natureza, até mesmo
espécies extintas. É o caso do mico-leão-dourado, que somente conseguiu
se fixar no Brasil depois que um zoológico norte-americano nos enviou
espécimes, e nos passou o know-how de reprodução".
Os
animais mantidos nos criadouros comerciais legalizados e autorizados
pelo Ibama têm condições de bem-estar asseguradas fotos: criadouros
freepowerEle atenta também para o hábito e capacidade de
voo dos animais. "As aves não acordam pela manhã, olham para o céu e
pensam ´lindo dia, vou dar uma voadinha´. Ledo engano. As aves somente
voam por quatro únicos motivos: procurar comida, procurar acasalamento,
fugir do predador e, finalmente, voam para voltar para o ninho. Voar é
gastar energia, que é reposta somente através da alimentação". As
constatações desmistificam também a ideia do pássaro "triste" na gaiola,
pois em um ambiente controlado, o animal passa a ter à disposição
condições ideais para a vida.
Cuidados médicos e profissionais
qualificados são outros requisitos importantes, frisados por Waldir
Pereira da Silva, do Criadouro Realengo, de Goiânia (GO). "Manejo
sanitário, como limpeza, desinfecção e a aplicação de antiparasitários,
antibióticos nas aves são medidas que tomamos e proporcionam boas
condições de saúde".
As aves têm acompanhamento diário, por tratadores treinados e com aptidão ao manejo especialSilva
também cita o acompanhamento diário das aves, por tratadores treinados e
com aptidão no manejo, além de acompanhamento veterinário constante. No
Realengo, o criador disponibiliza sabiás-da-mata, curiós e bicudos.
Segundo ele, a importância dos criadouros no caso de espécies como o
bicudo é crucial, pois o animal encontra-se praticamente extinto em
habitat natural.
Números vindos do exterior revelam também quão
urgente se faz uma transformação nas condições para criação e
comercialização legal no Brasil. Em 2007, de acordo com dados da
Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e
Flora Silvestres, a quantidade de araras exportadas pelo Brasil foi de
52 espécimes, entre 2000 e 2006. Nos Estados Unidos, o número de aves
dessa espécie, exportado, foi de 683 no mesmo período. Na Holanda, os
papagaios exportados contabilizaram 2.213, enquanto o Brasil exportou
100 animais.
Não se trata apenas de uma questão das aves. Outros
animais nativos de origem silvestre do Brasil são criados, com pesquisa e
alto padrão de tratamento, em grande escala no exterior. Como
consequência, hoje é mais fácil comprar animais como saguis e jiboias em
terras europeias do que em nações de clima tropical. Os dados da
convenção revelam que, na Inglaterra, o número de saguis exportados,
entre 2000 e 2006, chegou aos 520. No Brasil, foram 61 animais enviados
para fora. Mas o caso das jiboias e das iguanas é o mais emblemático: na
República Checa o número de jiboias criadas e exportadas foi de 12.531,
enquanto no Brasil, foram seis. No caso das iguanas, os Estados Unidos
exportaram 13.486 animais - e o Brasil, nenhum.