O canto
dos pássaros é sinônimo de paz e tranquilidade para a maioria das pessoas. Em
Brasília, membros da ACPB (Associação dos Criadores de Pássaros de Brasília) se
reúnem três vezes por semana, exclusivamente para ouvir o canto dos pássaros.
Além de hobby, a ação movimenta o mercado com competições regionais,
interestaduais e até nacionais.
Não muito diferente da natureza, em que machos disputam a posse da fêmea pelo
"gogó", a disputa consiste em quem canta por mais tempo. As fêmeas os
acompanham em todos os campeonatos e os casais só são separados durante o
torneio.
Na hora da competição, cerca de 80 pássaros são colocados em suas gaiolas em círculo
e categorizados por espécie. Um chefe de roda anuncia o início do torneio e o
cronômetro mede o tempo de cada um.
O vice-presidente da ACPB, Daniel Lemes dos Santos, explica que o
treinamento semanal é necessário para desinibir o pássaro.
— Se você só deixá-lo em casa, ele não se desenvolve. Para ele se acostumar a
cantar, não só para defender a posse da fêmea, ele precisa interagir com os
outros pássaros e não se assustar na hora da competição.
O pássaro que canta por mais tempo ganha troféus e títulos, e com isso pode
valer mais. O aposentado Ribamar Silva, 75 anos, é o mais antigo associado e
cultiva o amor pelas aves desde "menino". Hoje, ele tem três casais de Curió,
mas não esconde a preferência pelo Curisco, avaliado por R$ 100 mil pelo próprio
presidente da associação, Roberto Guimarães. Para Ribamar, não há preço que
pague.
— Os pássaros são a minha vida.
Não sou de vender, sou de comprar. Se eu não tivesse meus passarinhos, já teria
morrido.
Funcionário do Congresso Nacional por décadas, Ribamar conta que
veio transferido do Rio de Janeiro para Brasília em 1960 e passou a fazer parte
da associação, que nasceu junto com a construção da capital federal. Segundo
o presidente da ACPB, Roberto Guimarães, o custo mensal para manter um
pássaro é de R$ 250 a R$ 300, mas a maiora dos associados possuem dezenas deles.
Ribamar conta que é comum as reclamações da família em gastar dinheiro e dar
atenção demasiada aos pássaros, mas ele não se importa.
— Minha mulher fala que gostaria que eu a tratasse tão bem como trato os
meus passarinhos.
O presidente da ACPB, Roberto
Guimarães, explica que a associação conta com cerca de 1.500 associados. O
público é heterogêneo, mas os idosos são os mais ativos por terem mais tempo
para se dedicar.
Meio ambiente
Os pássaros que participam dos campeonatos são todos nascidos em
cativeiro e registrados pelo IBAMA. Ao nascer, recebem um anel inviolável de
identificação, uma espécie de "documento".
Roberto Guimarães conta que,
embora a criação de pássaros em cativeiro e as competições sejam legalizadas
pelos órgãos ambientais competentes, é comum as pessoas confundirem os
criadores com traficantes.
— Nosso passarinho foi
selecionado geneticamente e aprimorado a partir de cruzamentos corretos, não
temos nenhum interesse em tirar os pássaros do mato.
Guimarães também é aposentado e
dedica a vida para cuidar dos pássaros e da associação. Sua atividade preferida
é ouvir o canto das aves. Ele tem um sonho: que os criadores de pássaros sejam melhores
vistos pela sociedade.